Arq. Bras. Cardiol. 2022; 119(5): 809-812
Aneurisma Perfurado da Válvula Mitral: Um Problema de Inflamação ou Gradientes de Pressão?
Relato de caso
Aneurismas da válvula mitral (AVM) são incomuns e geralmente evoluem de forma aguda como manifestação de endocardite infecciosa (EI). O AVM como uma complicação tardia de EI em pacientes com cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva (CMH) é bastante incomum, levantando considerações em relação ao papel do processo infeccioso e das condições hemodinâmicas inerentes à cardiomiopatia. , Apresentamos um relato de caso de um paciente com CMH e ruptura de aneurisma no folheto da válvula mitral (VM) secundário a EI tratada anteriormente.
Um paciente do sexo masculino de 68 anos de idade com diabetes mellitus tipo 2 e dislipidemia foi internado com um histórico de 3 semanas de mal-estar, febre e dor abdominal recente no lado esquerdo. O exame físico revelou um sopro cardíaco sistólico de grau II/VI no ápex cardíaco, febre, sensibilidade abdominal no quadrante superior esquerdo e lesões purpúricas nos membros inferiores. O exame de sangue indicou neutrofilia, proteína C reativa de 211 mg/L, além de culturas sanguíneas positivas para Staphylococcus aureus sensível à meticilina. A tomografia computadorizada abdominal revelou embolização do baço, sem abcessos.Os ecocardiogramas transtorácico (ETT) e transesofágico (ETE) revelaram uma massa polipoide altamente móvel e no lado atrial do folheto anterior da VM sugestiva de vegetação, com regurgitação mitral leve sem evidência de abscesso, aneurisma ou perfuração da válvula; hipertrofia assimétrica do ventrículo esquerdo (VE) sem presença de gradiente sistólico intraventricular (GSIV) e movimento sistólico anterior (MSA) da VM ( ). O diagnóstico de EI e CMH foi estabelecido, sendo tratado adequadamente com flucloxacilina com evolução clínica favorável. Depois de três meses de acompanhamento, foi realizada ressonância magnética cardíaca, confirmando o diagnóstico de CMH: aumento da massa do VE (96 g/m ) com hipertrofia do ventrículo esquerdo (espessura máxima de 20 mm na parede inferoseptal), sem defeitos de perfusão, mas com evidência de realce tardio pelo gadolínio intramural na parede inferoseptal, e MSA da VM ( ). O ecocardiograma foi repetido e, além de evidência de CMH obstrutiva com um GSIV em repouso de 44 mmHg, foi identificado um aneurisma do folheto anterior da VM. Foram observados dois jatos mitrais regurgitantes, um devido à coaptação incompleta dos folhetos e outro devido ao aneurisma perfurado, quantificando a regurgitação mitral (RM) global em moderada (grau II/IV) ( ). A dose de betabloqueador foi aumentada e adotou-se a estratégia de acompanhamento próximo. Verificou-se a manutenção das características do aneurisma no acompanhamento ambulatorial do paciente após 2 anos.
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