Arq. Bras. Cardiol. 2022; 119(4): 531-532
Distúrbios de Condução após o Implante Transcateter de Válvula Aórtica: Desafio para mais 20 Anos?
Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "Dependência de Pacing a Longo-Prazo e Preditores de Implante de Pacemaker após Implante Percutâneo de Prótese Valvular Aórtica – 1 Ano de Seguimento".
O implante transcateter de válvula aórtica (TAVI) é um procedimento bem estabelecido para o tratamento da estenose aórtica grave, independente do risco cirúrgico para pacientes idosos. Desde sua introdução há duas décadas houve grandes avanços tecnológicos nos dispositivos, que aliados a novas técnicas de implante trouxeram reduções significativas nas taxas de complicações periprocedimento, impulsionando sua maior adoção mundialmente. No entanto, a incidência dos distúrbios de condução apresentou redução modesta, permanecendo como a complicação mais frequente após o TAVI, – o que contribui para o aumento da permanência hospitalar, dos custos e da piora dos desfechos clínicos a curto e longo prazos. , Além disso, a abordagem dos distúrbios de condução ainda tem grande variação entre os centros, principalmente em relação ao manejo do bloqueio de ramo esquerdo (BRE) novo, bloqueio atrioventricular avançado (BAV) pós procedimento e bloqueio de ramo direito (BRD) prévio, traduzido em taxas variáveis de implante de marca-passo definitivo (MP). Entre os pacientes que receberam MP após o TAVI também há grande variabilidade com respeito à sua dependência (estimulação ventricular) no seguimento.
Nesta edição do jornal, Pinto et al. avaliaram a incidência de distúrbios de condução, preditores e a taxa de dependência do MP, em uma população de 340 pacientes consecutivos submetidos a TAVI. Os distúrbios de condução ocorreram em mais de 50% dos pacientes pós procedimento, sendo o BRE o mais frequente (32%), com resolução espontânea em 56% deles após 6 meses. A taxa global de implante de MP foi de 18,5%, sendo o BRD prévio seu principal preditor. Entre os pacientes que necessitaram de MP, as principais razões foram BAV avançado (60,3%), seguido do BRE com BAV de baixo grau (22%). De maneira interessante, houve grande variação na porcentagem de estimulação ventricular entre os pacientes que receberam MP, sendo de 83% nos pacientes com BAV avançado (BAVT e Mobitz II) e de apenas 2% naqueles implantados por BRE e BAV de baixo grau (BAV de primeiro grau e Mobitz tipo I). Os resultados deste estudo reforçam os dados da literatura que demonstram a elevada incidência dos distúrbios de condução em cerca da metade dos pacientes após o TAVI e a necessidade de MP definitivo em quase 20% deles. – , Contudo, alguns aspectos deste estudo merecem uma reflexão.
[…]
Palavras-chave: Distúrbios de Condução; Marca-Passo
648