Arq. Bras. Cardiol. 2023; 120(8): e20230493

Existe Relação entre Miocardite Aguda e a Permeabilidade Intestinal? Dois Biomarcadores nos Ajudam a Responder a esta Pergunta

Fernando Arturo Effio Solis, Adriana Brentegani, Marcelo Luiz Campos Vieira ORCID logo

DOI: 10.36660/abc.20230493

Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "Zonulina e Presepsina Poderiam ser Biomarcadores e Alvos Terapêuticos para Miocardite Aguda?".

Miocardite é uma doença inflamatória cardíaca desencadeada pela ação de agentes infecciosos ou toxinas, que levam a lesão de miócitos por ação direta ou pela ativação exacerbada do sistema imune. Pode culminar em dilatação cardíaca, queda da fração de ejeção, arritmias ou até morte súbita. Chamamos de “miocardite aguda” o quadro clínico que se inicia há menos de 30 dias. De acordo com registros recentes, miocardite aguda é mais prevalente em adultos jovens, principalmente mulheres e sua causa é predominantemente infecciosa tendo enterovírus, coxsackie, parvovírus B19 e, mais recentemente, vírus da COVID-19 como exemplos de agentes etiológicos virais., Bactérias enteropatogênicas como Salmonella, Shigella e Campylobacter também são algumas das principais causas de miocardite identificadas em séries de casos. A zonulina é uma proteína que modula a permeabilidade intestinal. Sua expressão leva ao enfraquecimento das junções de oclusão presentes nas células epiteliais intestinais. Esta expressão é estimulada por certos enteropatógenos, facilitando a translocação de agentes e toxinas para dentro do organismo,, levando a um estado de endotoxemia. A presepsina é tida como um marcador confiável de endotoxemia de baixo grau e, desta forma, um marcador indireto do aumento da permeabilidade intestinal.,

Neste estudo transversal observacional, os pesquisadores avaliaram a possível relação entre permeabilidade intestinal e miocardite aguda por meio da análise dos níveis séricos de zonulina e presepsina em grupo de pacientes com miocardite aguda em comparação com indivíduos sem a doença. A miocardite aguda foi definida a partir de história clínica e elevação laboratorial de biomarcadores como CK-MB e troponina-I. Foram observados 138 indivíduos consecutivos, 68 com miocardite aguda e 70 no grupo controle, não havendo diferença entre as características demográficas básicas entre os grupos. Os níveis de proteína C-reativa (PCR), fibrinogênio, pico de CK-MB e pico de troponina-I foram significativamente maiores no grupo de miocardite do que no grupo controle. É interessante citar também que o grupo de pacientes com miocardite apresentou um histórico significativamente maior de COVID-19 ou vacinação contra COVID-19 nos últimos seis meses em comparação ao grupo controle. Os pesquisadores descobriram que os níveis de zonulina e presepsina foram estatisticamente maiores no grupo de pacientes com miocardite (p<0,001). Inclusive, os pacientes que tinham níveis maiores de zonulina apresentaram menor fração de ejeção do ventrículo esquerdo, maiores índices de arritmia e maiores queixas gastrointestinais. Observou-se também que os níveis de zonulina estão positivamente relacionados com presepsina (r=0,461), pico de CK-MB (r=0,744) e pico de troponina (r=0,627), tais resultados mostram que os níveis de zonulina e presepsina estão associados de forma positiva à gravidade da lesão cardíaca, medida pelos marcadores CK MB e troponina. Em análise de regressão logística binária multivariada, tanto a presepsina quanto a zonulina foram identificadas como preditores independentes para a doença. Análise da curva ROC foi realizada evidenciando que os valores preditivos para miocardite aguda da zonulina e da presepsina foram estatisticamente significativos (p < 0,001, para ambas).

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