Arq. Bras. Cardiol. 2021; 116(4): 782-783
Fatores de Risco Cardiovascular em Cardiologistas Certificados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia: Lições a serem Aprendidas
Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "Fatores de Risco Cardiovascular em Cardiologistas Especialistas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia".
As doenças cardiovasculares (DCV) continuam sendo a principal causa de morte no mundo. Fatores de risco como hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes mellitus (DM), dislipidemia, obesidade, tabagismo e alcoolismo associados ao comportamento sedentário, privação de sono, estresse e histórico familiar favorecem a aterosclerose. A complexidade da fisiopatologia no processo de formação da aterosclerose e a variedade de fatores de risco para doença arterial têm impactos importantes na mortalidade.– A HAS é um importante fator de risco, sendo o mais prevalente para DCV, e sua relação é decorrente de lesões vasculares que causam hiperplasia e hipertrofia da camada média do vaso. As doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade e morbidade em pessoas com diabetes. Resulta da hiperglicemia e resistência à insulina, levando à inflamação crônica, estresse oxidativo e, em última instância, disfunção endotelial. A DM tem aumentado significativamente nos últimos anos, tornando-se uma das principais causas de mortalidade. A resistência à insulina promove dislipidemia, acelerando a aterosclerose em pacientes diabéticos.– A prevalência da obesidade tem crescido muito nas últimas décadas. É uma entidade complexa, de grande impacto nas doenças cardiovasculares e importante no comprometimento dos fatores de risco (HAS, DM e dislipidemia). Há aumento da incidência de morte súbita entre pacientes obesos, geralmente por arritmias ventriculares frequentes e complexas. Tabagismo, ingestão de álcool e sedentarismo estão relacionados ao aumento do risco cardiovascular, afetando todas as fases da aterosclerose. A alimentação não saudável está relacionada a fatores que interferem na prevenção e controle das DCV, sendo de grande importância para a mortalidade precoce em todo o mundo. A adoção de hábitos saudáveis exige constante esforço pessoal e resiliência.– A melhora no estilo de vida associada à alimentação saudável traz novas perspectivas para a prevenção cardiovascular. A atividade física tem efeitos positivos no metabolismo lipídico, glicose e pressão arterial e, combinada com novas classes de medicamentos para controlar os fatores de risco, resultou na diminuição de desfechos cardiovasculares. O controle do tabagismo é um importante instrumento de prevenção primária que, por meio da educação continuada nos últimos anos, tem levado a uma redução importante no número de dependentes.–
Em um novo estudo com cardiologistas, Teixeira e cols. encontraram menor prevalência de sedentarismo e tabagismo, mas maior prevalência de consumo de álcool. A prevalência de dislipidemia foi maior do que HAS e DM. Embora os especialistas tivessem maior conhecimento sobre a doença, não foi possível observar hábitos mais saudáveis do que o restante da população– Em contrapartida, no Canadá, um estudo de coorte com 17.071 médicos em atividade e 5.306.038 membros da população em geral apontou que os médicos usavam menos serviços preventivos recomendados pelas diretrizes e tiveram taxas mais baixas de fatores de risco cardíaco. Após oito anos de acompanhamento, os médicos tiveram um risco substancialmente menor de desfechos adversos do que a população em geral. Esses resultados podem nos levar a especular sobre as possíveis causas dessas diferenças. O estilo de vida estressante e a jornada excessiva de trabalho atrelada à prática médica no Brasil podem ser responsáveis por parte desses achados.
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Palavras-chave: Aterosclerose; Cardiologistas; Dislipidemias; Doença Arterial Coronária/mortalidade; Fatores de Risco; Obesidade
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