Arq. Bras. Cardiol. 2025; 122(9): e20250567
Hipertensão em Indígenas Brasileiros: Uma Crise de Saúde Pública em Rápido Crescimento
Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "Prevalência de Hipertensão Arterial Sistêmica e Fatores Associados em Indígenas Atendidos em um Ambulatório Especializado no Sul do Brasil".
O aumento da carga de hipertensão arterial sistêmica entre as populações indígenas do Brasil é um claro indicador da transição epidemiológica em curso no país, marcada por uma mudança de doenças infecciosas e desnutrição para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como a hipertensão. No estudo recente de Araújo et al., realizado em um ambulatório especializado em saúde indígena em Passo Fundo (RS), 26,0% dos adultos indígenas foram considerados hipertensos. Essa prevalência é consistente com relatos anteriores de outras populações indígenas no Brasil, como as do Parque Indígena do Xingu (26,7%) e da região do Alto Rio Negro (29,0%), sugerindo que os achados refletem uma tendência nacional mais ampla de aumento do risco cardiovascular entre comunidades indígenas. Vários estudos destacam essa transição, observando que as comunidades indígenas estão enfrentando taxas crescentes de hipertensão e outras condições cardiometabólicas como resultado de rápidas mudanças culturais, econômicas e de estilo de vida, incluindo urbanização, mudanças alimentares e maior interação com a sociedade não indígena.– Pesquisas nacionais confirmam o surgimento de obesidade, hipertensão e diabetes em um número crescente de comunidades indígenas em todas as regiões do Brasil, destacando ainda mais a transição epidemiológica., Antes considerada virtualmente ausente nessas comunidades, a hipertensão agora está emergindo como uma preocupação crítica de saúde, com taxas de prevalência se aproximando ou até mesmo superando as médias nacionais.
O estudo de Araújo et al. acrescenta nuances a esse quadro epidemiológico ao identificar fatores independentemente associados à hipertensão: idade ≥ 60 anos, cônjuge e diabetes mellitus. A constatação de que 58% dos idosos nessa população são hipertensos é especialmente preocupante quando comparada a dados demográficos que mostram que apenas 20,1% dos indígenas no Rio Grande do Sul têm mais de 60 anos. Isso sugere uma alta carga de doenças entre os idosos e reforça a urgência da implementação de estratégias preventivas específicas para cada idade.
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