Arq. Bras. Cardiol. 2025; 122(5): e20250332

Insuficiência Cardíaca por Doença de Chagas: Desafio ainda a Ser Vencido no Século 21

Roberto M. Saraiva , Luciana F. Portela, Andréa R. Costa

DOI: 10.36660/abc.20250332

Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "Insuficiência Cardíaca Aguda em Pacientes com Cardiomiopatia Chagásica: Resultados do I Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca (BREATHE)".

Embora os novos casos de doença de Chagas (DC) tenham diminuído nas últimas décadas por meio do controle da transmissão vetorial e transfusional, cerca de 3,7 milhões de brasileiros ainda vivem cronicamente afetados por essa doença. Como cerca de 30 a 40% dessa população apresenta a forma cardíaca (CCC), e a insuficiência cardíaca (IC) está presente em cerca de 10% dos portadores de CCC, a DC é uma das principais causas de IC em países endêmicos, variando de 4% a 50%.^– O artigo de Silva et al. acrescenta importantes informações epidemiológicas atualizadas: 8,7% dos pacientes admitidos por IC aguda em um grande registro multicêntrico brasileiro entre 2011 e 2018 apresentavam CCC. Portanto, mesmo atualmente, ainda é imperativo incluir DC na investigação diagnóstica de pacientes com IC de etiologia desconhecida. Outro aspecto importante da IC por DC é que ela apresenta maior mortalidade^,, e incidência de AVC do que a IC relacionada a outras etiologias. O artigo de Silva et al. confirmou que, entre aqueles admitidos por IC aguda, os pacientes com DC apresentaram uma maior taxa de morte ou transplante cardíaco durante a internação hospitalar e maior incidência cumulativa de morte após 3, 6 e 12 meses após a alta.

O pior desfecho na DC pode estar relacionado a características específicas da doença, incluindo miocardite fibrosante progressiva com aumento cumulativo da fibrose miocárdica ao longo do tempo, fenômenos cardioembólicos mais frequentes, arritmias com risco de vida mais frequentes e pior hemodinâmica e função sistólica do ventrículo esquerdo (VE). De fato, Silva et al. descreveram uma menor pressão arterial sistólica e fração de ejeção do VE entre pacientes com DC. Outro aspecto descrito por Silva et al. é que sinais de IC direita foram mais frequentes em pacientes com CCC.

[…]