Arq. Bras. Cardiol. 2025; 122(3): e20250150
Níveis Ideais de Pressão Arterial: Adeus Curva J, Bem-vindo “Quando Mais Baixo Melhor”
Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "Revisão Sistemática sobre a Eficácia de Metas Intensivas do Tratamento Anti-Hipertensivo: Recomendação da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC)".
Embora a hipertensão seja um dos fatores de risco mais bem reconhecidos para doenças cardiovasculares, não há níveis claros e universais de pressão arterial definidos como ideais. Dados originais do estudo de Framingham na década de 1970 sugeriram que não havia limite de normalidade para pressão arterial alta, indicando que “quanto menor, melhor”, particularmente para pressão arterial sistólica. No entanto, a reanálise subsequente dos mesmos dados sugere uma associação de curva J entre pressão arterial diastólica e resultados. Curiosamente, o padrão da curva J foi restrito à pressão arterial diastólica, uma vez que as associações da pressão arterial sistólica com a mortalidade e os resultados cardiovasculares sempre foram lineares, sem um limite claro, pelo menos para níveis tão baixos quanto 90-110 mmHg. Com base em tais dados epidemiológicos, bem como no conhecimento clínico de que níveis mais baixos de pressão arterial podem causar sintomas, as diretrizes de hipertensão recomendaram uma definição parcimoniosa de meta de pressão arterial adaptada ao risco individual do paciente. Na década de 1970, a primeira versão do tratamento do Joint National Committee foi consistentemente indicada apenas com pressões arteriais diastólicas acima de 105 mmHg, mas desde então, as metas têm sido progressivamente menores.
Essa curva J foi reavaliada em vários estudos desde então. Uma subanálise interessante do estudo SPRINT demonstrou que, embora a pressão arterial diastólica mais baixa esteja associada a um risco aumentado de eventos cardiovasculares, uma redução ainda mais agressiva da pressão arterial sistólica para a meta do estudo ainda leva a uma redução em eventos cardiovasculares, mesmo em indivíduos com níveis mais baixos de pressão arterial diastólica. Outro grande estudo epidemiológico demonstrou que, embora a pressão arterial diastólica baixa esteja associada ao aumento de eventos, o efeito não persiste quando ajustado para idade, sexo, fatores de risco e níveis de pressão arterial sistólica. Este estudo também demonstrou que o risco aumentado associado à pressão arterial diastólica baixa foi explicado principalmente por sua associação com idade avançada e pressão arterial sistólica mais alta. Coletivamente, as evidências indicam que a PA diastólica baixa não causa resultados piores; sua associação com eventos cardiovasculares representa apenas causalidade reversa e efeitos de confusão.
[…]
Palavras-chave: Doenças Cardiovasculares
157