Arq. Bras. Cardiol. 2020; 115(4): 646-648
O Paradoxo da Obesidade na Insuficiência Cardíaca Depende da Aptidão Cardiorrespiratória?
Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "O Impacto da Aptidão Cardiorrespiratória no Paradoxo da Obesidade em Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida".
A insuficiência cardíaca (IC) é uma ameaça global à saúde pública, associada ao aumento de hospitalizações, morbidade, mortalidade e altos custos econômicos. Entretanto, a IC, a qual tem a doença cardíaca isquêmica como doença subjacente comum, é uma condição pelo menos parcialmente evitável. A aptidão cardiorrespiratória (ACR) é um índice dos níveis habituais de atividade física e é considerado o padrão ouro para a capacidade de exercício aeróbico. A aptidão cardiorrespiratória, um componente importante da aptidão física e medida diretamente pelo consumo de oxigênio de pico (VO2 pico) e a inclinação da eficiência ventilatória (inclinação VE/VCO2), foi identificada como um dos preditores mais importantes dos desfechos de saúde e sobrevivência. Relatamos anteriormente que o VO2 pico, quando diretamente avaliado, está forte, independente e inversamente relacionado a um risco reduzido de condições cardiometabólicas, como IC,, fibrilação atrial,, fibrilação ventricular diabetes, bem como mortalidade por doenças cardiovasculares (DCV)., Nosso recente estudo de base populacional baseado no UK Biobank sugere que a ACR é um forte indicador de risco para mortalidade e a adição da ACR ao escore dos fatores de risco convencional melhorou a discriminação geral do risco de mortalidade e, mais importante, o valor preditivo da ACR variou através dos níveis de alguns fatores de risco relevantes, incluindo idade, sexo e tabagismo. Este fato é um indicador de que a ACR é uma ferramenta potencialmente valiosa de avaliação de risco na clínica prática.
Sabe-se que a obesidade, medida pelo índice de massa corporal (IMC), está relacionada ao desenvolvimento de desfechos cardiovasculares. No entanto, o efeito combinado da obesidade e da ACR no risco de IC futura ainda requer estudos adicionais. É de relevância clínica entender se a ACR atenua a associação da obesidade com o risco posterior de IC devido a outras DCV subjacentes. A maioria dos estudos anteriores sobre IMC mais alto, outros parâmetros de obesidade e risco de IC não levou em consideração as diferenças nos níveis de ACR. Embora o IMC alto seja um fator de risco para IC, há achados de uma relação não-linear entre os resultados de IMC e DCV em pacientes com IC, o que indica uma relação incomum. Em pacientes com IC estabelecida, evidências acumuladas sugerem que indivíduos com sobrepeso e obesidade (IMC mais alto) apresentaram melhor sobrevida em comparação com aqueles com IMC normal, um conceito conhecido que foi chamado de “paradoxo da obesidade” ou “epidemiologia reversa”. Alguns mecanismos têm sido propostos para explicar o paradoxo da obesidade da IC, que inclui a terapia da IC ser mais eficaz em pacientes obesos. Foi relatado que a ACR também pode desempenhar um papel, mitigando ou negando o “paradoxo da obesidade”.,
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