Arq. Bras. Cardiol. 2022; 119(6): 968-969
O Primeiro Passo
Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "Disparidade de Gênero na Autoria Principal e Sênior em Periódicos Brasileiros de Cardiologia".
George Eliot e George Sand, romancistas do século XIX, eram pseudônimos de Mary Ann Evans e Amandine Aurore Lucile Dupin, respectivamente. Em comum, duas mulheres que para atingirem reconhecimento por seus textos, utilizavam nomes masculinos em suas obras, como bem relata Nodari em seu artigo publicado em 2021. Muito além do conhecimento histórico, analisar a disparidade de gênero na produção científica transcende a literatura e deve ser entendido como resultado de um processo de formação e desenvolvimento da sociedade. É inquestionável o modelo patriarcal, branco e com privilégios financeiros que, aliados a uma visão do “homem detentor da razão e a mulher detentora da emoção”, ajudaram a construir o modelo de ciência que, de maneira equivocada, afastou as mulheres do campo científico.
Pensar este modelo como algo pertencente ao passado não é adequado. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2019, expõe uma realidade social que apresenta reflexos na formação da cientista. As mulheres dispensam duas vezes mais tempo aos afazeres domésticos por semana em relação aos homens da mesma faixa etária (21,4 versus 11 horas), têm menor remuneração que seus pares do sexo masculino (77% da renda masculina), e naquelas com idade entre 25 e 49 anos que convivem no mesmo domicílio que uma criança de até três anos, o percentual de inserção no mercado de trabalho é menor que o dos homens na mesma situação (59,6% versus 89,2%).
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Palavras-chave: Autoria; Cardiologia; Iniquidade de Gênero; Publicações
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