Arq. Bras. Cardiol. 2021; 117(2): 376-377
Para Quais Pacientes Infectados pelo HIV a Aspirina e as Estatinas São Boas?
Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "O Efeito da Atorvastatina + Aspirina na Função Endotelial Difere com a Idade em Pacientes com HIV: Um Estudo de Caso-Controle".
Embora os avanços no tratamento antirretroviral revolucionaram o prognóstico dos pacientes infectados pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), as complicações cardiovasculares continuam a principal causa de morte nesses pacientes, principalmente devido a um aumento no risco cardiovascular em comparação à população geral. Programas de prevenção a doenças cardiovasculares têm enfatizado a importância do controle de fatores de risco tradicionais nas estratégias de avaliação de risco. No entanto, indivíduos infectados pelo HIV têm um risco cardiovascular residual para eventos cardiovasculares que pode justificar um tratamento preventivo adicional. De fato, em comparação a indivíduos não infectados pelo HIV, os níveis de inflamação são mais altos em pacientes infectados pelo HIV, mesmo aqueles com controle viral, e essa inflamação é um fator importante na gênese da aterosclerose. Assim, estratégias de prevenção a doenças cardiovasculares com foco em pacientes com infecção pelo HIV são necessárias. No arsenal terapêutico da prevenção cardiovascular, a aspirina e as estatinas são os pilares do manejo de pacientes infectados por HIV. Ambos os medicamentos possuem efeitos pleiotrópicos, incluindo efeitos imunomodulatórios, antiplaquetários, e anti-inflamatórios que melhoram a função endotelial e previnem a progressão do espessamento da carótida desses pacientes. Contudo, a prescrição de aspirina e estatinas entre pacientes infectados por HIV continua aquém do desejado, já que somente 50% dos pacientes são tratados adequadamente. Apesar de vários estudos terem investigado os efeitos de estatinas e da aspirina na redução da inflamação, os resultados desses estudos são contraditórios.,
Nesta edição dos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Santos Jr. et al. relatam o efeito do uso de uma combinação de atorvastatina e aspirina por seis meses quanto à melhoria da função endotelial e ao espessamento da carótida em uma coorte de 38 pacientes com carga viral controlada. A melhora na função endotelial foi avaliada pelo método de dilatação mediada por fluxo. Os autores mostraram uma relação entre a resposta ao tratamento e idade; uma maior resposta foi observada em indivíduos com idade maior a 40 anos. Esse resultado pode ser explicado pelo fato de que, provavelmente, indivíduos mais velhos têm uma maior exposição à inflamação causada pelo HIV. Vários estudos já demonstraram que esses mesmos pacientes também possuem um risco cardiovascular mais elevado devido à inflamação crônica. Portanto, este estudo corrobora a prescrição de uma combinação de atorvastatina e aspirina para a prevenção primária de eventos cardiovasculares em pacientes infectados pelo HIV, particularmente para aqueles com idade maior que 40 anos de idade. Além disso, alguns dos achados desse estudo sugerem que as mulheres soropositivas para o HIV podem apresentar uma melhor resposta a essa combinação de medicamentos que os homens. Considerando que a terapia tripla atualmente utilizada tem um efeito significativo sobre a inflamação, um mecanismo intrinsicamente ligado à progressão da aterosclerose poderia explicar a maior reposta em mulheres que em homens.
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