Arq. Bras. Cardiol. 2024; 121(11): e20240701

Pior Prognóstico de Pacientes com IAMCST Fora do Horário de Expediente: O que Estamos Perdendo?

Marco Antônio Smiderle Gelain, Henrique Barbosa Ribeiro ORCID logo

DOI: 10.36660/abc.20240701

Este Minieditorial é referido pelo Artigo de Pesquisa "Intervenção Coronária Percutânea Primária Fora do Horário de Expediente: Experiência de uma Década em Centro Cardiovascular de Alto Volume".

No Brasil, a incidência anual de infarto do miocárdio é estimada em aproximadamente 300.000 a 400.000 casos. Apesar dos avanços no tratamento, o infarto do miocárdio continua sendo a principal causa de morte no Brasil e no mundo, com uma taxa de letalidade em torno de 9%. De acordo com o registro BRACE, a síndrome coronariana aguda (SCA) é responsável por 45% das hospitalizações no Brasil, com dois terços atribuídos ao infarto agudo do miocárdio (IAM), incluindo infarto do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST) e infarto do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST). Notadamente, 40% a 60% dos pacientes com IAMCSST se apresentam fora do horário de expediente, entre às 19h e às 7h, e nos fins de semana., Dado que o tratamento do IAMCSST é tempo-sensível e requer uma equipe multidisciplinar complexa no laboratório de cateterismo, o impacto do tempo de apresentação nos resultados do paciente continua sendo uma questão controversa. Assim, a questão de se a apresentação fora do horário de expediente resulta em um prognóstico pior ainda é questionável.

Nesta edição da revista, Cirne et al. examinaram um registro prospectivo de um centro de SCA de alto volume no sul do Brasil, abrangendo 4.436 pacientes consecutivos com IAMCSST submetidos à intervenção coronária percutânea primária (ICPP) entre 2009 e 2019. Os pacientes foram estratificados por tempo de apresentação: no horário de expediente versus fora do horário de expediente. O desfecho primário foi um composto de eventos cardíacos adversos maiores (ECAM), que incluiu morte, IAM ou acidente vascular cerebral em um ano, juntamente com ECAM em 30 dias, trombose de stent e necessidade de nova revascularização. Entre a coorte, 2.576 (57%) pacientes foram tratados fora do horário de expediente, sem diferenças significativas entre os grupos em relação à idade, sexo, artéria relacionada ao infarto ou classificação de Killip. Além disso, o tempo sintoma-hospital (média de 240 minutos) e o tempo porta-balão (TPB) (média de 70 minutos) foram semelhantes. Não foram observadas diferenças na complexidade do procedimento, complicações, uso de balão intra-aórtico ou taxas de sucesso de angioplastia; entretanto, pacientes fora do horário apresentaram uma carga trombótica maior (49,6% vs. 45,5%, p<0,01). Apesar das características clínicas e angiográficas basais comparáveis, aqueles que se apresentaram fora do horário apresentaram maiores taxas de ECAM em 30 dias e um ano (10,2% vs. 8,5% e 15,4% vs. 13,1%, respectivamente), bem como maior mortalidade (hospitalar: 7,9% vs. 6,1%; 30 dias: 7,8% vs. 6,1%; 1 ano: 11,1% vs. 9%, respectivamente). Não foram observadas diferenças na incidência de IAM ou AVC.

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